O primeiro-ministro cabo-verdiano destacou hoje o contributo do ensino superior no desenvolvimento e no processo de transformação do país, defendendo que a aposta deve passar agora pela melhoria da qualidade, eficiência e qualificação dos recursos humanos.
José Maria Neves, que leccionava uma aula magna na tradicional abertura do novo ano lectivo da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), lembrou que, em 14 anos, e após um forte investimento, o sistema de ensino superior cabo-verdiano conseguiu “ganhos inquestionáveis e animadores”.
“Se há um sector que tem marcado a paisagem social cabo-verdiana neste século é certamente o do ensino superior de cariz universitário. Em 14 anos, montamos um sistema nacional de ensino superior e estamos a fechar o ciclo com um inestimável salto positivo”, elogiou.
Para o primeiro-ministro, o ensino superior em Cabo Verde superou todas as etapas iniciais, num país com especificidades e vulnerabilidades enquanto pequeno Estado insular e que tenta a sua inserção plena na economia mundial, admitindo, porém, que falta ainda aprofundá-lo e consolidá-lo.
José Maria Neves destacou ainda a “autonomia universitária” da Uni-CV como “valor central” da cultura política do país, sublinhando que a universidade pública tem todos os órgãos eleitos pela comunidade académica, o que constitui um “avanço ímpar” no continente africano.
“Por não podermos basear-nos na exportação de matérias-primas, e por não termos recursos naturais de alto valor comercial, temos de apostar em vias de desenvolvimento em que as universidades desempenham necessariamente um papel fundamental”, entendeu.
A proliferação de estabelecimentos universitários em Cabo Verde, com a criação de polos ou de instituições de raiz, começou em 2002, com a Universidade de Cabo Verde, o que permitiu inverter o fluxo estudantil do ensino superior para o exterior, com a inerente diminuição dos custos com bolsas de estudo.
O ponto alto deu-se em 2010, quando, pela primeira vez, o número de universitários cabo-verdianos a frequentar as nove instituições de ensino superior no país (16.500) superou a população universitária a estudar no estrangeiro (6.000), maioritariamente em Portugal e no Brasil.
A expansão trouxe também para Cabo Verde uma centena de universitários estrangeiros, na maioria da costa ocidental de África, sobretudo da Guiné-Bissau, Nigéria e Senegal, mas também de Portugal, São Tomé e Príncipe, Brasil, China, Cuba, França, Itália, Holanda, EUA, México e Alemanha.
A abertura do novo ano lectivo na Uni-CV contou ainda com discursos da reitora da instituição, Judite do Nascimento, do ministro do Ensino Superior Ciência e Inovação cabo-verdiana, António Correia e Silva, e do reitor da Universidade de Aveiro, Manuel Assunção, que falou sobre a internacionalização e investigação do ensino superior.
Perante uma plateia de alunos, funcionários, docentes, corpo diplomático e deputados nacionais e municipais, Manuel Assunção garantiu que a universidade que dirige vai continuar a desenvolver e a aprofundar as relações com a sua congénere cabo-verdiana nas diversas áreas.